Editorial
Algumas palavras
Um centro de investigação que escolhe trabalhar com a investigação em Artes e as suas confluências com a Comunicação e as Tecnologias corre sempre grandes riscos: lidamos ao mesmo tempo com ciências exatas e com o campo das Humanidades – uma área quantas vezes inexata. Apesar de todas as transformações por que passou o século XX, no século XXI continuamos a trabalhar com critérios positivistas, claramente inadequados, até mesmo para as ditas ciências duras. É necessário começar a trabalhar com um paradigma diferente, que permita um diálogo verdadeiro e profícuo entre artes e ciência, sobretudo porque as fronteiras entre estes dois campos há muito que se esboroaram.
Se os critérios científicos/positivistas nunca se adequaram à compreensão das artes, hoje em dia não são sequer adequados para compreender a própria ciência, já que esta busca novos caminhos e estes, curiosamente, aproximam-na das Humanidades. Ilya Prigogine, químico emérito, trabalhou com a Teoria da Complexidade na tentativa de encontrar respostas satisfatórias para uma série de questões que os seus estudos sobre a termodinâmica impunham. Reconheceu, como vários cientistas fizeram, que os princípios científicos, apenas, não seriam suficientes para dar conta de um universo em constante expansão, no qual as certezas cartesianas são substituídas por dúvidas e a organização é substituída pela compreensão, e aceitação, do caos. O pensamento complexo é, acima de tudo, um pensamento dialógico que permite uma abordagem transdisciplinar entre áreas aparentemente tão diversas como a filosofia e a ciência.
A crença neopositivista na unidade da ciência há muito que perdeu o seu lugar. Não faz sentido, portanto, continuar a aprisionar toda a investigação numa gramática científica. Nem toda a investigação produz um output de conhecimento. Seja qual for esse conhecimento, a base da investigação tem de estar solidamente assente no rigor, que não é premissa apenas das ciências exatas, e na genuína necessidade de construir um diálogo profícuo e constante que não exclua as diferenças, os erros, os ruídos e que, acima de tudo, não tente, inutilmente, organizar o caos, mas procure, sabiamente, negociar com ele.
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