EXPOSIÇÃO

Exposição

O CIAC, cumprindo o seu objetivo de iniciação à investigação científica nas suas áreas de atuação, promove a divulgação de trabalhos artísticos e críticos de jovens investigadores, neste caso, alunos do Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve, que refletem crítica e esteticamente acerca da exposição patente na Galeria Trem “Territórios, Vestígios, Lascas…” dos artistas Tatiana de Almeida, Bruno Grilo, Ana Rostron e Gonçalo Rodrigues.

Sobre o Sensível

Texto de Patrícia Serrão e Rúben Gonçalves

Inaugurou na passada quinta-feira, dia 19 de abril, na Galeria Trem, em Faro, a exposição colectiva intitulada “Territórios, Vestígios, Lascas…”, comissariada por Bertílio Martins, artista plástico e membro do corpo docente do curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve. O evento reúne obras dos artistas Tatiana de Almeida, Bruno Grilo, Ana Rostron e Gonçalo Rodrigues. A Arte Contemporânea caracteriza-se “(…) por ser uma actividade que reflecte sobre si própria.”*, visível quer na sua praxis, quer na sua efabulação. Na qualidade de estudantes de Artes Visuais, apresentamos uma breve reflexão, conjunta, em torno do acontecimento, com intuito de desenvolver um pensamento artístico e socialmente activo. No sentido de empreendermos uma audaciosa aventura sobre o estudo e porque não também sobre o estatuto da própria Imagem Artística em si. Deste modo, iremos recorrer ao exercício elementar que é aquele que nos permite ajuizar reflexivamente em termos estéticos, sobre o sensível, isto é, daquilo que se constitui verdadeiramente como a natureza das obras de arte, e que é também, embora nem sempre, um processo de mera validade pessoal.

O artista Bruno Grilo apresenta-nos um trabalho que se impõe de forma impactante através de um jogo lúdico que combina Forma e Cor – uma forte relação gráfica, diríamos ainda um jogo compositivo visualmente estimulante.
A leitura do seu trabalho, que faz referência directa à arquitectura, convida-nos a pensar o Homem enquanto construtor e reorganizador do mundo, remetendo-nos para um pensamento sobre a construção do lugar e a sua utilização.
Assim, o artista explora o limite entre aquilo que é privado e público, por exemplo relevado na obra “Path to the beach”. Grilo levanta-nos, assim, questões de índole ética e também moral, cujo desenlace plasmamos na construção da (de uma) paisagem, focando desse modo o papel do Homem enquanto parte de um todo.

BRUNO GRILO

“Sem Título”. 2018

Acrílico sobre tela – 80x60cm

 

A obra que Ana Rostron tem vindo a desenvolver demonstra uma prática processual coerente, que se apresenta pela forma e pelo modo como a artista dispõe e organiza os elementos integrantes de um conjunto. Sem recorrer à manipulação plástica de objectos achados (trouvé) que a artista recolhe, Ana Rostron, conjuga-os numa única construção, apresenta-nos o todo: a própria obra.
O acto de recolha, selecção e montagem das partes, exige um tipo de relação e momento de decisão articulável (dentro do processo criativo) até à construção apresentada. A natureza deste tipo de processo levanta questões que convidam à discussão sobre aquilo que é ou pode ser a feitura de uma obra de arte.

Tendo como exemplo, a peça “Sem Título” emana uma aura poética que assenta no discurso dual entre cheio e vazio, reforçada pela sombra volúvel de quem ocupa o espaço no regime da visualidade. Colocando em evidência o índice, este trabalho apela ao lugar onde habita a memória.

ANA ROSTRON

“Sem Título”. 2018

Dimensões variáveis

 

A obra de Gonçalo Rodrigues e Tatiana de Almeida, reúne a utilização de objectos, combinados com matéria orgânica, trabalhos que também possuem um caracter de registo processual distinto.
Na obra “Estudos para ninhos”, Tatiana de Almeida, apresenta-nos um conjunto de objetos nos quais a artista pretende produzir uma reflexão sobre a pegada humana na Natureza. Estes objectos têm em si mesmo uma aparência “frágil”, algo que reforça a ideia do impacto criado pelo Homem enquanto ser ocupante do espaço natural, capaz de desenvolver um discurso visual com uma componente poética particular. Por outro lado, Gonçalo Rodrigues foca-se num processo que é ligeiramente diferente, pois o seu relacionamento tem mais a ver com o seu contacto directo com a Natureza. Essa relação é fruto dos caminhos pedonais que o próprio realiza e nos quais encontra objectos que o interessam esteticamente e que acaba por utilizar nas suas peças. Gonçalo interage com o “natural” de uma forma particular, onde conjuga o natural com objectos inorgânicos e que utiliza de forma a reforçar as suas ideias. Há que destacar ainda, no seu processo artístico, a utilização de pigmentos naturais e a sua atenção pela instalação das suas obras em função do espaço expositivo.

Tatiana de Almeida

Estudos para ninhos. 2018

Barro, latex, tinta acrílica, verniz, vidro, madeira – Dimensões variáveis

 

GONÇALO RODRIGUES

“Primal I”.2018

Terra e crânios – Dimensões variáveis

 

Esta mostra de trabalhos, composta por jovens artistas, apresenta, sem dúvida, um discurso particular, que se manifesta colectivamente, apelando justamente à necessidade de reflexão sobre a acção do Homem, nomeadamente no mundo que constrói, enquanto parte integrante de um sistema vivo. A exposição estará patente até dia 26 de Maio, cumprindo um horário de abertura de terça a sexta-feira das 11:30h às 18:00h e aos sábados, das 10:30h às 17:00h.

 

Notas:

* SANCHES, Rui. (2017). Janela, Espelho, Mapa… A obra de arte e o mundo, reflexão sobre o projecto artístico individual (pp. 17). Lisboa: Sistema Solar, Crl. (Documenta)