STREET ART
Street Art invade hotel de luxo no Algarve
O evento Off the Wall, organizado pela Galeria ArtCatto e pelo Hotel Conrad Algarve levou à street art para dentro do Hotel, um dos mais exclusivos e luxuosos da região. A ideia, que poderia parecer estranha – artistas habituados a trabalhar no espaço público produzirem obras nas paredes do hotel, resultou num inusitado programa que envolveu artistas convidados e jovens artistas da Escola de Belas Artes de Lisboa e da Licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Algarve. Durante 3 dias os artistas trabalharam nas áreas selecionadas pela organização e mostraram as diversas técnicas, e atitudes, que estão presentes na produção dos murais espalhados pelas cidades um bocado por todo o mundo. Nuno Viegas, Leandro Marcos, Hélder Sousa, João Colucas, Leandro Cabrita, Adrian Costa e Vincent Ribeiro, jovens artistas da licenciatura em Artes Visuais da UALg, produziram murais com técnicas diversas, dividindo-se entre o trabalho em grupo, marca registada de uma certa arte urbana e apresentando também trabalhos de cariz individual que ora acentuava a sua pertença ao curso, o aprendizado do espaço, a exploração de técnicas diversas, ora a sua pertença ao meio urbano, autodidata e profundamente marcado pela ideia de ocupação de um território que, normalmente, está vetado a estas manifestações.
Off the Wall é um evento que sinaliza, visivelmente, a contemporaneidade: após anos de uma existência mais ou menos marginal, a arte urbana é reconhecido como uma autêntica manifestação artística que pertence ao universo da Arte Contemporânea e como tal, merece ser apresentada de maneira legítima, elevando os artistas a mesma categoria dos outros artistas que trabalham intramuros. A arte urbana não é uma atividade recente, se pensarmos nas produções humanas podemos remontar à arte rupestre e perceber que a limitação da produção artística aos espaços circunscritos é um fenómeno relativamente novo na História da Arte Ocidental. Mas, ao delimitar-se espaços para a produção dos artistas, limitou-se também a definição do que é ou não pode ser considerado Arte, deixando alguns fenómenos, como a street art, numa espécie de limbo, entre a arte e o vandalismo, entre a arte e o entretenimento.
A arte urbana é uma das muitas manifestações da chamada Arte Pública, conceito que, por si só, causa alguma confusão. Usar o espaço urbano como espaço expositivo é levar a Arte para o centro da realidade quotidiana, fazendo-a penetrar no tecido urbano sem que, no entanto, seja confundida com ele, e é também invadir um espaço que é de pertença comum e que a intervenção artística pode causar interferências no uso quotidiano que o público dá a este mesmo espaço. Será que toda e qualquer obra colocada extramuros pode, ou deve, ser considerada Arte Pública? Será que esta descoberta contemporânea da street art não corre o risco de domesticá-la e padronizá-la? Intervir no espaço urbano é sempre uma atitude política, é uma marcação de território ou a consciência da retomada de um território que deveria ser efetivamente de todos e onde todos pudessem, livremente, apresentar as suas ideias. Há, manifestamente, na street art, o desejo de superar limitações, de criar novos padrões, de fugir aos modelos de comportamento impostos. O artista assina: eu existo e não preciso de curadores, galeristas, historiadores da arte ou teóricos para provarem a minha existência. Eu pertenço ao espaço, antes mesmo deles se pronunciarem. E o espaço pertence a todos eles.
O trabalho dos artistas da licenciatura em Artes Visuais no evento anuncia/denuncia esta presença e a vontade de criar uma iconografia própria, não limitada ao que se aprende nas aulas, produzindo um mix entre a arte que eles respiram e a arte que eles aspiram. Xana, artista e professor, foi o curador ideal. Como artista, percebeu a vontade dos seus pares e como professor, apoiou cada projeto e permitiu que os alunos brilhassem, cada um no seu registo, cada um com sua técnica.
O resultado final demonstra claramente que é possível conjugar street art e hotéis de luxo. Ou galerias. Porque no fim, como disse Gertrud Stein, a rose is a rose is a rose – a arte é a arte é a arte. O que muda é apenas o suporte.
Mirian Tavares
Organização: Galeria ArtCatto e Hotel Conrad
Participação: Artes Visuais – UAlg