
A literatura galega inicia o seu renascimento no século XIX num contexto de reivindicações nacionalistas que ecoam o movimento que varre a Europa a partir de meados do século XVIII. Perante a necessidade de justificar a defesa de uma identidade colectiva diferenciada, impõe-se o projeto de recuperação de uma história silenciada e deturpada pela cultura hexemónica com a intenção de assimilar e uniformizar. Assim, através do discurso histórico, postula-se a origem celta do povo galego, ideia que funcionará como mitomoteur em que assenta a formação discursiva nacionalitária e que, do ponto de vista ideológico, é imediatamente transferida para a criação literária, adquirindo uma dimensão estética fundamental. Este mito tem uma extraordinária eficácia interna para a formação do imaginário coletivo galego e para a formação discursiva nacionalista, já que serve para fornecer um grupo étnico de identificação – os povos celtas – e, ao mesmo tempo, um grupo étnico de exclusão contra o qual se pode afirmar o novo grupo, já que a Galiza celta se destaca do resto da Península Ibérica.
Seguindo a análise semi-logográfica do mito proposta por Barthes nas suas Mitologias, no caso do mito celta o “significante” – a reivindicação da origem celta da Galiza – está naturalmente ligado ao “conceito” – a nacionalidade galega. A relação que liga o conceito do mito à forma é, basicamente, uma relação de deformação (Barthes, 1957: 207) que, neste caso, transmuta a história em natureza; assim, o significante parece dar origem ao significado -a origem celta justifica a existência da nação-, quando na realidade o mecanismo que actua para criar o mito é o oposto: a necessidade de demonstrar a existência da nação exige a crença num passado comum desde as origens mais remotas.
Autora: María Xexús Lama López
Edição: María Jesús Botana Vilar e Claudia Mariño Gómez
Ano: 2023
ISBN: 978-989-9127-57-9
Nº de Páginas: 248
Esta publicação também está disponível em: Inglês